... e realmente não é. Mas esse algo que é, é
realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua
ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e
aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz
filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo
daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E
eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo
que eu gostei de você? Coitado.Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é
você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é
não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo
sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz,
ainda que você faça tudo sendo um grande safado. Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu
tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não
morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter
você por perto pra sempre.eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o
tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem
medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou
continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí
com sua casca de não amor.E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo
“bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou
continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em
escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão
no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara
da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você
acredita.”
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