terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ela o amava. Ele o amava...

... Ela sonhava com ele todas as noites e desejava seu abraço como quem deseja água num deserto. Ele bolava planos de (re)aproximação e era reduzido a pó sempre que qualquer outro conseguia a atenção que era dele por direito e merecimento. Ela não tinha ele, mas tinha um quartinho quente repleto de palavras que ele um dia pronunciou e a fez acreditar. Ele não tinha ela, mas tinha uma cachoeira de palavras dela no seu quintal, de onde todos os dias jorravam palavras novas, sussurros de amor - um pedido de socorro disfarçado. Ela não tinha ele, mas tinha aquelas velhas palavras nãão-ditas que não a deixavam nunca. Palavras que ele dizia serem incompreensíveis, mas que ela - e ele também - sabia que em algum lugar dentro dele o coração compreendia, assimilava e se agarrava. Eles não tinham mais um ao outro, mas ainda assim se tinham. Em seus corações ambos sabiam que havia alguém fincado ali feito tatuagem. Se relacionavam sem saber quando na multidão todos sumiam e seus pensamentos tinham destino certo: um ao outro. Ele preferira a distância e ela não entendia como isso podia ser melhor. Ela se perdia na tentativa de decifrá-lo todos os dias, se confundia com os sinais emitidos, não sabia ao certo o que ele queria. Ele tentava se aproximar, mas se afastava. Ela tentava ignorar, mas suplicava por ele. Ele tentava ignorar, mas suplicava por ela. Ela não entendia as aproximações seguidas por abismos. Ele fazia de conta que o seu olhar não procurava o dela pedindo abrigo. Ela fazia de conta que não necessitava de que o olhar dele descansasse sobre o dela para que lhe cantasse uma canção de ninar que dissesse o quanto era vital o amor dos dois. Um dia alguém falou que eram bobos. E bobos foram eles por levarem a sério. Hoje se fazem de bobos por tentarem fugir de algo mais forte. Tentam fugir da força de atração que seus campos magnéticos emitem. Campos opostos. Opostos demais. E, por isso mesmo, com uma força de atração inevitável. Ela, apesar de saber do amor e de todos os faz-de-conta, tinha medo de que não desse mais tempo de se render e se deixar levar pra onde o amor a conduzia. Ele, apesar de acreditar que o coração não tinha mais força, em algum lugar escondido desejava aquela presença que o inquietava e o dilacerava. Eles se amavam, é verdade. E eram bobos por tentar negar. Eram bobos por não entenderam que certas feridas só o amor do outro pode curar. Eles não se entendiam muitas vezes, tinham concepções diferentes, mas eram - mesmo sem saber - exatamente o que precisavam. Ela tinha medo do ano que acabava e que o levaria junto pra sabe-se lá onde. Apesar de não estar com ele, sobrevivia aos dias assistindo, mesmo de longe, os sorrisos dele, a força dele, a visão do cara que um dia fez a vida dela valer a pena. E, agora que o ano ia embora, tinha medo de acordar num ano novo e se ver sozinha, com o amor no colo, e sem assistir à vida dele. Ela o amava. E tinha medo de que o pra sempre deles houvesse mesmo acabado. Ele a amava. E ela se perguntava se por algum momento ele pensara nisso, num amanhã sem o sorriso dela. Eles se amavam. E eu nunca vou entender o porquê de estarem separados. Eles se amam. E se não forem dois nunca mais, eu tenho medo do que o futuro trará. Eles se amam. E por isso, apesar de quase desistir todos os dias, ela ainda continua de pé. E resolveu acordar amanhã e tentar - com todas as forças - mostrar pra ele o quão sem sentido é continuar assim. Eles se amam. E eu nunca vou entender o amor e todas as esperanças que ele insiste em fazer brotar num coração tão ferido e cansado de amar.

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