terça-feira, 1 de novembro de 2011

Encontrei uma palavra curiosa: amortecedor. A encontrei hoje escrita no painel de uma oficina, nada de incomum, afinal, ali se consertava amortecedores. Só que a minha mente de criança imediatamente gostou da palavra e a repetiu inúmeras vezes até que perdesse o sentido. Em determinado momento a palavra não existia mais, tudo o que existia era uma junção dos termos amor e tecedor. E aí começaram minhas filosofias. Tudo porque minha amiga que após uma baita queda, se assustou com a tristeza que sentia: nenhuma. Daí deduzi que ela tinha um amortecedor dentro dela. O amor é o maior tecedor da vida. É ele que sempre encontra um jeito de criar sorriso onde não tem, de costurar com uma linha fininha o coração que há pouco quebrara, de fazer uma teia de coisas bonitas que bloqueie a imundície do mundo lá fora. O amor tecedor amortece ciúmes tecendo a certeza de que ele te ama e jamais te trocaria por ninguém. Amortece dor com música, choro com sorrisos, coração partido com amigos. O amor tecedor e sua teia de coisas bonitas amortecem a queda quando depois de ir às nuvens, somos lançados abruptamente ao chão. O amor tecedor encontra sempre um jeito de tecer a esperança naquele cantinho esquecido do coração. Em todas as vezes que pensei em desistir, o amor veio e teceu a vontade de continuar, a força que havia ficado no meio do caminho. O amor tecedor sempre encontra um jeito de trazer a memória os dias de paz e nos lembrar do que foi tecido naquela época: os abraços à luz da lua, que eram um jeito mudo de dizer que não queríamos mais nada desse mundo; os sorrisos sem razão pela simples felicidade de se estar junto; todos os sonhos sonhados a dois. O amor tecedor insiste até o fim e sabe quando é a hora de parar de tecer em conjunto com um coração e ir procurar outro. Nessas horas o amor tece a esperança de encontrá-lo numa próxima esquina e a vontade de ser uma pessoa melhor e não cometer nenhum erro dessa vez. O amor tecedor tece borboletas num estômago que há muito não sabia o que era tê-las. O amor tecedor tece mãos dadas nos abismos, abraços nas despedidas, beijos onde haveria dor. O amor tecedor nunca para. Se faz frio, nos tece um casaco de lã; quando chega a primavera, nos despe de toda aquela capa e continua a tecer pro próximo inverno. O amor tecedor vai, dia após dia, construindo o colchão fofo que nos acolherá se cairmos. Todo mundo tem um amortecedor dentro de si, a gente descobre que ele existe quando começa a sorrir quando provavelmente choraríamos. O amor tecedor está sempre aí e aqui dentro, tecendo dias felizes, enchendo a gente de esperança e nos incentivando a ir. Porque quedas fazem parte do caminho e inverno sempre vai ser uma estação. Mas vamos ter sempre um colchão fofo, um casaco quentinho pros dias de frio. O amor tecedor estará sempre a amortecer nossos passos. O amor tecedor é o que nos faz suportar os dias - e principalmente as noites.


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